domingo, 8 de dezembro de 2024

Vamos libertar as nossas sementes


Os jardineiros mais atentos que bisbilhotaram os catálogos de sementes seleccionadas para este Inverno e Primavera podem ter reparado numa nova categoria desconhecida: as sementes de "Código Aberto". Esta nova marca, etiquetada como "Código Aberto", "OSSI" ou "Iniciativa de Semente de Código Aberto", posiciona-se ao lado de designações mais familiares, como as "legado" e "Orgânico Certificado", destinadas a ajudar os compradores a restringirem as suas escolhas. Mas a OSSI na realidade é mais uma anti-marca uma vez que designa "sementes livres". Isto significa que qualquer variedade com esta etiqueta não está sobrecarregada por patentes e outras restrições que, cada vez mais, retiram várias variedades de circulação, já que as sementes patenteadas não podem ser legalmente guardadas, replantadas ou partilhadas, e devem ser compradas todos os anos.

O mais preocupante é que a genética patenteada não pode ser utilizada para fins de aperfeiçoamento de plantas, o que significa que os criadores nas universidades e nas pequenas empresas de sementes — que realizam trabalhos promissores, principalmente com sementes orgânicas — sentem em primeira mão esta diminuição da diversidade. Perde-se assim esta matéria-prima é devido ao controlo empresarial. Neste vácuo genético cada vez maior, os criadores de plantas não podem aceder à diversidade do que deveria ser o nosso património partilhado de sementes. Agora, principalmente, precisamos de novas variedades que estejam melhor adaptadas ao cultivo orgânico e a um clima em constante mudança.

É aqui que entra a Iniciativa de Semente de Código Aberto. É um bem comunitário aberto para germoplasma (material genético), fundada em 2012 como uma colaboração entre criadores, agricultores e empresas de sementes, e modelado a partir do software de código aberto. A OSSI estabeleceu um caminho alternativo paralelo às poucas gigantes empresariais que possuem a maior parte dos activos globais de sementes. "Estamos a trabalhar para construir um modelo comercial para que as pessoas possam comprar sementes livres", diz Jack Kloppenburg, membro do conselho da OSSI e sociólogo emérito da Universidade do Wisconsin, Madison. Este tem lutado contra o controlo empresarial das sementes há três décadas. "Não importa o que a Monsanto, a Seminis e a Syngenta façam, a OSSI pode fazer o seu próprio trabalho em paralelo, de forma proactiva. Não é que não nos preocupemos com o que acontece lá fora; os problemas são substanciais. Mas na medida em que a OSSI puder apoiar e fazer parte do sistema alternativo, é aí que queremos estar."

A autora e criadora de plantas da OSSI, Carol Deppe, de Fertile Valley Seeds do Oregon, também está a travar esta batalha. "O antigo modelo de domínio público de um bem comum como sementes, em última análise, não funciona; é uma batalha perdida", diz ela. "Nós, criadores de código aberto, continuamos a colocar germoplasma aperfeiçoado em prol do bem comum, mas as grandes empresas continuam a retirá-lo." Para enfrentar isto, a táctica da OSSI tem um toque especial: vem na forma de um compromisso simples, aceite tanto pelos criadores como por aqueles que posteriormente utilizam as sementes comprometidas. Os criadores concordam em compartilhar os resultados do seu trabalho original livremente, com a provisão de que qualquer pessoa que depois utilize a semente comprometida também concorde em compartilhar livremente quaisquer resultados da sua criação — tornando a OSSI não só um bem comum, mas também um bem comum protegido.

Outros criadores proeminentes da OSSI incluem Tom Stearns da High Mowing Organic Seeds, Frank Morton da Wild Garden Seed e Irwin Goldman da Universidade do Wisconsin, Madison. As primeiras 15 empresas a oferecer sementes comprometidas pela OSSI são as Adaptive Seeds, Backyard Beans and Grains, Bountiful Gardens, Cultivariable, Family Farmers Seed Cooperative, Fedco Seeds, Fertile Valley Seeds, Fruition Seeds, High Mowing Organic Seeds, Lupine Knoll Farm, Nichols Garden Nursery, Oikos Tree Crops, Restoration Seeds, Siskiyou Seeds e Wild Garden Seed. As variedades disponíveis agora são quase 100.

A perda de diversidade é um problema global, e Kloppenburg afirma que a organização está a pensar numa versão internacional deste compromisso, através de uma parceria com o Centre for Sustainable Agriculture, da Índia. Kloppenburg convida os cultivadores a fazerem a sua parte para ajudar a proteger as nossas sementes do controlo empresarial, comprando sementes da OSSI e contribuindo para a organização. Saiba mais e veja uma lista de todas as variedades comprometidas em www.OSSeeds.org.

Margareth Roach

© Mother Earth News | traduzido sob expressa autorização, publicado originalmente no nº 273 Dezembro de 2015/Janeiro de 2016.

0 comentários:

Enviar um comentário