Facas de cozinha para a defesa do lar
Os artigos sobre armas para defesa doméstica costumam enfatizar três aspectos. As caçadeiras são consideradas as melhores opções devido à sua aparência intimidante, elevada probabilidade de acerto, poder de paragem mais do que suficiente e risco mínimo de sobrepenetração. As pistolas são bastante portáteis, mas tendem a ter uma precisão e um poder de paragem inferiores ao necessário. Por outro lado, as carabinas de alta potência podem representar um sério perigo para a saúde dos nossos vizinhos, principalmente em apartamentos ou casas de estrutura leve, onde a probabilidade de as balas atravessarem as paredes, o chão ou o tecto é bastante elevada.
Embora as probabilidades de um proprietário de casa ter de defender o seu "castelo" sejam remotas, ele deve preparar-se como se fosse para uma patrulha na selva. A sua arma principal deve ser uma caçadeira, reservando as armas de mão apenas para emergências, quando a caçadeira não estiver ao alcance. Um caso recente ilustra o perigo de depender de pistolas: um proprietário disparou três vezes contra um assaltante com um revólver .38 enquanto este o atacava com uma faca; acabaram por morrer nos braços um do outro. Além disso, em algumas localidades, o porte de pistolas é simplesmente proibido.
As raparigas e mulheres estão entre as melhores atiradoras de caçadeiras e carabinas do país. Por exemplo, a actual campeã de carabina de pressão de ar é uma rapariga de 14 anos, uma das "atiradoras" de calibre olímpico é a capitã Margaret Murdock do Exército dos EUA... e a lista continua. No entanto, a mulher comum considera o acto de disparar uma arma pouco feminino; se tiver uma arma, é provável que seja uma pistola que mantém, mas com a qual não pratica. Em alguns casos, seria mais sensato confiar numa faca de cozinha grande, com a qual está totalmente familiarizada, do que numa pistola pequena em que pode não ter confiança para usar numa emergência.
As estatísticas de homicídios neste país indicam que as mulheres preferem a cozinha e as facas de cozinha como ferramentas letais. Com base nestes dados, podemos extrapolar que as mulheres também devem ser capazes de usar estas facas para autodefesa.
Basicamente, qualquer faca de cozinha, de preferência aquelas com uma lâmina de dez centímetros ou mais, pode ser considerada uma potencial arma. Em Hong Kong, onde existem restrições à posse de armas de fogo, a arma favorita é o cutelo de cozinha, um utensílio com lâmina afiada. A dona de casa deve decidir com antecedência qual a faca que usará caso enfrente um ataque em sua casa. Essencialmente, quanto maior, melhor: uma grande faca de chef é praticamente uma espada curta. Deve ter uma ponta e lâmina muito afiadas. A lâmina não deve ser demasiado flexível: as facas de cozinha podem ter lâminas com espessuras entre 2,5 e 6 milímetros; as mais robustas são mais eficazes para golpes de perfuração.
De forma simples, a mulher que se defende com uma faca deve dominar três movimentos básicos: corte na mão, manobra evasiva e golpe fatal. Se o agressor ainda não fez algo que o possa levar à prisão, é provável que seja desencorajado por um corte na mão ou no braço. Por exemplo, uma rapariga que conhecia estava a atravessar um parque em St. Louis quando um homem lhe agarrou o braço. Ela pediu-lhe que a largasse, mas como ele recusou, sacou de uma faca e cortou-lhe o braço. Confrontado com uma situação que só poderia piorar, ele afastou-se. A propósito, este movimento deve ser combinado com uma boa dose de gritos.
O segundo movimento é a manobra evasiva. Uma mulher deve impedir que o agressor lhe retire a faca das mãos. Isso pode ser feito mantendo-o à distância com a outra mão, enquanto segura a faca recuada, pronta para atacar qualquer alvo exposto.
O terceiro movimento é apenas para situações de vida ou morte. Uma estocada no pescoço ou no abdómen é mais provável de ser fatal do que qualquer corte (excepto se atingir a artéria carótida). Para quem deseja aperfeiçoar estas habilidades, a esgrima desportiva é o melhor treino [NDT - recomendamos as aulas de esgrima do Ginásio Clube Português].
Francamente, considero que a maioria das técnicas de defesa pessoal sem armas, ensinadas em cursos da YWCA e semelhantes, não têm em conta o tamanho, a velocidade e a resistência média à dor de uma mulher em comparação com o seu provável agressor. Na verdade, homens e mulheres utilizaram sempre armas para compensar a vantagem física de potenciais oponentes. Os assaltantes e os violadores são predadores, não são lutadores; escolhem as suas vítimas precisamente pela aparente vulnerabilidade. Se a potencial vítima quiser evitar tornar-se uma vítima real, deve transmitir imediatamente uma impressão de autoconfiança, estando preparada para fazer barulho, fugir ou lutar. Se tiver uma arma, deve sacá-la imediatamente, mas mantê-la fora de vista até ao último momento, para garantir o elemento surpresa.
Hoje em dia, existe uma vasta gama de boas facas de cozinha fabricadas industrialmente, como as da Gerber e da Henckels, disponíveis no mercado. Para quem procura algo de primeira classe, os artesãos de facas personalizadas produzem algumas das melhores facas de cozinha do mundo. Por exemplo, o modelo 10 "Salt Fisherman/Household Utility" da Randall é provavelmente a melhor pechincha da cutelaria personalizada actual; pode ser adquirido com uma lâmina de cinco ou sete polegadas e com várias opções de estilo de cabo. Outro excelente exemplo é o modelo 14 "Chuckwagon" de Dan Dennehy, embora seja consideravelmente mais caro do que o Randall. Como acontece com a maioria das facas de cozinha, nenhuma destas possui guarda ou maneabilidade; por isso, não devem ser usadas para certos tipos de golpes ou bloqueios que podem ser realizados com uma faca de combate tradicional.
O problema da defesa doméstica é complexo. Na verdade, a utilização de armas de fogo ou de facas é o último recurso, o limite final da defesa doméstica; todos os outros meios, como fechaduras e alarmes, já terão falhado. Nestas circunstâncias, o proprietário da casa deve ser proficiente no uso de qualquer arma disponível. Na Segunda Guerra Mundial, por exemplo, o OSS treinava os seus agentes para reconhecer praticamente qualquer objecto como uma potencial arma. Confiar exclusivamente em armas de fogo é tornar-se dependente da sua presença.
David E. Steele
© Soldier of Fortune, Fevereiro de 1979.
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