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segunda-feira, 3 de março de 2025

Bolton Hall: Terra e Progresso Económico

Uma entrevista com Bolton Hall publicada na revista Arena em Dezembro de 1900.

Senhor Hall, como alguém que estudou o imposto único, acredita que este seria um remédio eficaz para reduzir a pobreza involuntária ao mínimo?

Henry George afirma que, ao destinar o valor dos rendimentos da terra para o público, "a grande causa da actual distribuição desigual da riqueza seria eliminada, e cessaria essa competição unilateral que hoje priva os homens que nada possuem, além da sua capacidade de trabalhar, dos benefícios do progresso da civilização, forçando os salários ao mínimo, independentemente do aumento da riqueza. O trabalho [cada homem por si ou, mais frequentemente, em associações] livre para aceder aos elementos naturais de produção, já não seria incapaz de se empregar a si próprio, e a concorrência, actuando tão plenamente e livremente entre empregadores como entre empregados, elevaria os salários ao seu verdadeiro nível natural – o valor integral do produto do trabalho – e mantê-los-ia nesse patamar."

Qual considera que seria a influência ética que este imposto teria sobre a sociedade?

O progresso ético deve ser o progresso da humanidade. O progresso da humanidade precisa de oportunidades para se desenvolver, e o primeiro requisito para tal é o acesso aos recursos da Natureza. A negação desse acesso corrompe todo o nosso sistema social, e todos partilham dessa corrupção, tornando impossível a verdadeira fraternidade: pois somos todos ou receptores dos rendimentos da terra – ou seja, ladrões – ou pagadores dos rendimentos da terra – isto é, cúmplices de ladrões. O uso igualitário da terra permitir-nos-ia viver uns para os outros, em vez de uns à custa dos outros.

Que pensa da alegação de que a tributação exclusiva do valor da terra favoreceria a acumulação de riqueza por parte dos detentores de títulos e seria opressiva para os proprietários de terras?

Acreditamos que a justiça deve "favorecer a acumulação da própria riqueza", caso alguém deseje acumular o que possa obter legitimamente. "Os 'obrigacionistas', no entanto," diz Louis F. Post, "são, na sua maioria, eles próprios proprietários de terras; pois um título de dívida é, geralmente, o primeiro direito sobre algum interesse na terra, como uma concessão ferroviária. Assim, o imposto único não poderia simultaneamente favorecê-los e oprimi-los. Além disso, não poderia ser opressivo para os proprietários de terras – ou seja, para os detentores de um privilégio especial – exigir-lhes o valor daquilo que recebem, ainda que isso impedisse a acumulação da riqueza alheia."

Por que razão considera esta medida um remédio fundamental?

Como se afirma em As Coisas Tal Qual São [inédito em língua portuguesa]: "A reforma do nosso actual 'sistema' fundiário não é o fim das reformas nem a soma de todas elas. É, como disse o seu maior defensor, a porta de entrada da reforma. Mais do que isso, é a única reforma sem a qual todas as outras se tornarão autodestrutivas, pois tendem a aumentar tanto a população como a produção, e, por conseguinte, a aumentar a renda da terra, promovendo assim todas as formas de monopólio."

Muitos agricultores opõem-se ao imposto único, pois consideram que este lhes seria opressivo. Por outras palavras, alegam que as suas terras seriam mais pesadamente tributadas do que o total dos impostos que actualmente pagam, enquanto que os detentores de acções bancárias e outros títulos financeiros ficariam praticamente isentos de tributação. Considera esta posição válida?

Basta lembrar que certos terrenos urbanos valem doze milhões de dólares por acre; que um pequeno lote na zona comercial de uma vila vale mais do que um campo inteiro das melhores terras agrícolas da região; que uns poucos metros quadrados de carvão ou ferro valem mais do que vastas propriedades agrícolas; que o direito de passagem de uma companhia ferroviária através de uma zona densamente povoada ou entre pontos estratégicos vale mais do que o seu próprio material circulante; que o valor das modestas casas operárias nos subúrbios é insignificante em comparação com os terrenos residenciais urbanos – para que se torne evidente o absurdo, senão mesmo a desonestidade, da alegação de que o imposto único prejudicaria os agricultores e pequenos proprietários em favor dos ricos. A má-fé deste argumento torna-se ainda mais evidente quando se considera que, sob os actuais sistemas fiscais, o agricultor e o pequeno proprietário são obrigados a pagar em impostos sobre melhoramentos, alimentos, vestuário e outros bens de consumo muito mais do que o valor anual da terra nua que possuem.

Tradução de Flávio Gonçalves

sábado, 7 de maio de 2022

Filosofia da sobrevivência, entrevista com Ragnar Benson


O excerto de entrevista que se segue é uma raridade, foi levada a cabo por Virginia Thomas da agência noticiosa National News Service, escritórios de Denver, e publicada na Paladin Press Magazine. Não conseguimos resgatar nem a entrevista por completo nem sequer determinar em que número da revista foi publicada, o original encontra-se no Archive.org. A entrevista foi dada por ocasião do lançamento de Refúgio de Sobrevivência em 1983, obra que estamos actualmente a traduzir para a colecção Prontidão e Sobrevivência.

***

O autor sobrevivencialista Ragnar Benson passou recentemente pelo Aeroporto Internacional de Stapleton para esta entrevista. Sabido no que diz respeito às realidades do mundo, tanto graças ao seu historial de rapaz de quinta como às suas andanças internacionais, Benson destaca-se pelas suas ideias práticas - embora extraordinárias - no que à autossuficiência diz respeito. As respostas que aqui nos deu representam algumas das filosofias que encontramos no seu livro mais recente, Refúgio de Sobrevivência.

Na sua opinião, porque é que as pessoas se tornam sobrevivencialistas?

As pessoas investem o seu tempo e o seu dinheiro no sobrevivencialismo por terem uma preocupação genuína quanto ao seu futuro. Sentem que o equipamento que compram, o conhecimento que adquirem e os mantimentos que armazenam lhes dão uma espécie de garantia no que diz respeito ao futuro, uma habilidade para reagirem de modo positivo ao que poderia de outro modo parecer uma situação desesperante.

Escreve no Refúgio de Sobrevivência que devemos "praticar a arte do possível". O que quer dizer com isto?

Não é qualquer pessoa em qualquer situação que conseguirá organizar um refúgio. Pessoas muito pobres e pessoas que tenham outras prioridades na verdade não podem despender muito tempo nem muito dinheiro para preparar um refúgio. O que sugiro é que qualquer pessoa consiga formular uma filosofia de refúgio que tenha por base aquilo que realmente já tem ou conseguirá obter sem grande esforço. Há que compreender que ninguém consegue escrever uma fórmula concisa, detalhada, que se possa aplicar à situação de cada pessoa. Alguém que viva no centro de Denver terá necessidade de um refúgio diferente de alguém que viva nas montanhas do Montana. Uma pessoa tem de determinar quais são as suas mais-valias e depois, de modo muito esperto e ambicioso, planificar aplicá-las do modo que lhe for mais vantajoso.

Escreve também que os sobrevivencialistas são pessoas que já analisaram os imprevistos mais prováveis e se preparam para os mesmos. Quantas pessoas julga que fazem mesmo isso?

Estou em crer que um bom número de pessoas já avaliaram as probabilidades; o grupo dos anti-nuclear por exemplo, acham que há uma grande probabilidade de ocorrer uma guerra nuclear. Muitos sobrevivencialistas pensam o mesmo. Mas o movimento anti-nuclear deposita demasiada fé no governo. Parece-me ser em boa parte uma idiotice ter demasiada fé no nosso próprio governo, e ainda mais julgar que os soviéticos se irão desarmar ou aceitar qualquer outra desvantagem militar. Mas voltando à sua pergunta, creio que poucas pessoas se estarão a preparar a sério.

E quanto aos outros - os que não se preparam? Vamos apodá-los de quê?

A etiqueta que tento aplicar-lhes é a de "preguiçosos". Muitos deles ficam satisfeitos em sentar-se a ver televisão, o que é extremamente passivo. Talvez "passivos" seja uma etiqueta mais adequada. Acredito que os sobrevivencialistas participam no seu próprio futuro. Os restantes não têm lá grande interesse em preparar-se ou podem, na realidade, já ter desistido e acreditar que não têm qualquer futuro. Na verdade não tenho qualquer problema com essas pessoas. Não vou subir a um caixote e discursar que a sua filosofia [de vida] está errada. Opero com base na perspectiva de que tudo sempre teve a ver com a sobrevivência dos mais aptos e de que os mais aptos são aqueles que se preparam e tentam concretizar os seus objectivos com entusiasmo. Por definição, os sobrevivencialistas serão sempre os mais aptos.

Porque quer viver durante e depois de uma crise?

Suponho que tenho uma grande sede de vida [...].

Publicado originalmente em 1983 na Paladin Press Magazine, esta tradução foi efectuada por Flávio Gonçalves e deixou de fora algumas perguntas que não conseguimos obter. Caso nos queira auxiliar a traduzir e produzir mais conteúdos, por favor consulte o nosso Patreon. Esta tradução pode ser livremente reproduzida desde que incluam uma menção à prontidaoesobrevivencia.com e não omitam o nome do tradutor.

terça-feira, 26 de abril de 2022

Os conhecimentos de Helen e Scott Nearing


Tradução de The Wisdom of Helen and Scott Nearing, © Mother Earth News | traduzido sob expressa autorização.

Como já várias vezes referimos nestas páginas, a Helen e o Scott Nearing estão anos luz à nossa frente no que diz respeito ao regresso à terra e a viver uma vida de simplicidade voluntária. E é normal que assim seja, uma vez que começaram com uma quinta degradada nas Green Mountains do Vermont há já muito tempo, no Outono de 1932.

A vida era boa para os Nearing naquela mini-quinta... até as encostas em redor deles começarem a eclodir com resorts de ski nos primórdios dos anos 50, obrigando Helen e Scott a mudarem-se para uma enseada rochosa na costa do Maine e a começar tudo de novo.

E é aí que encontramos actualmente os Nearing: ainda a limpar monda, ainda a construir honestas casas de pedra (a Helen e o Scott são famosos pelas suas casas de pedra), e ainda a plantar a maior parte da sua dieta vegetariana eles mesmos em jardins holísticos inacreditavelmente produtivos... como têm feito há já 50 anos.

Naturalmente (de várias formas), os Nearing aprenderam algumas coisas acerca de vida de quinta e regressar ao básico ao longo dos anos. E, para sorte de todos nós, concordaram em partilhar algum do seu conhecimento com os leitores da Mother Earth News numa coluna de perguntas e respostas. Não contem com respostas personalizadas às vossas questões. As questões mais frequentes serão aqui - e só aqui respondidas - onde todos podemos ler o que os Nearing têm a dizer.

P: Limpei 1,5 hectares de amieiros dos meus jardins, mas agora tenho de lidar com a tarefa de retirar os troncos que estão bem enraizados. Há como me livrar deles sem ter de utilizar maquinaria pesada? Já vi escavadoras a trabalhar e dão cabo do solo.

R: Há coisa de uns vinte anos, tivemos o mesmo problema que aqui descreve: um pedaço de terra repleto de árvores e troncos de arbustos. Limitamo-nos a cortar o lote todo encostado ao chão e depois cobrimos tudo com muita palha podre. Passados alguns anos, os troncos apodreceram por completo e a terra ficou limpa. Esta técnica é uma alternativa às escavadoras, e deste modo prepara-se uma terra crua para uma bela plantação de mirtilos. Encontrará uma descrição pormenorizada de como o fizemos no Capítulo 8 do nosso livro, Continuing the Good Life.

P: Qual a vossa opinião acerca das "ervas" medicinais, como os chás medicinais? Caso façam uso deles, quais os vossos favoritos?

R: Utilizamos raiz de consólida esmagada como cataplasma em feridas e manchas na pele, e o sumo das folhas de aloe vera com o mesmo propósito. Bebemos chás de camomila, cavalinha e frutos de roseira brava pelas suas propriedades benéficas.

A nossa amiga Juliette de Bairacli Levy, no seu Herbal Handbook for Everyone, cobre o assunto em grande detalhe. Infelizmente, o livro esgotou, mas - caso consiga encontrar algum exemplar numa biblioteca ou alfarrabista - estamos certos de que o achará de grande utilidade (bem como outros volumes da autoria da Juliette).

P: Fiquei a conhecer-vos graças aos artigos na Mother Earth News, livros e passa palavra. Gostava mesmo de trabalhar convosco... pois quero aprender imenso acerca da jardinagem orgânica, com pouca tecnologia.

No passado, fui aprendiz em Sonnewald com os LeFevers, que foram extremamente úteis aos muitos que foram ter com eles. Contudo, comprendi que - naquela situação - o processo de aprendizagem tinha de ser frequentemente interrompido para deixar que outros também participassem no mesmo projecto por algum tempo.

Claro, não faço ideia de precisam de ajuda. Se não precisarem, talvez me possam indicar outros jardineiros da Costa Leste que queiram aprendizes. Adoro trabalhar no duro e seria um ajudante bem motivado.

R: Depois de milhares de pessoas nos aparecerem todos os anos a querer aprender ou "ajudar"... tivemos de publicar uma carta formal que dizia algo como isto: "ficamos satisfeitos pelo vosso interesse no nosso modo de vida. Desde a publicação do nosso livro Living the Good Life [Viver a Boa Vida], centenas têm perguntado se podem visitar a nossa quinta durante o Verão, um mês, uma semana, um dia ou uma hora. Teríamos muito gosto em vos receber a todos, mas isto cria-nos problemas. Caso tenhas de abandonar o nosso modo de vida quinteiro autossuficiente para criar uma escola, uma cada de hóspedes, um restaurante - ou qualquer tipo de instituição - estaríamos a abdicar da nossa boa vida e a começar um negócio! 

Preferimos continuar a viver a nossa vida simples de quinteiros, utilizando o tempo livre para escrevermos... o que fazemos durante as manhãs. Podemos receber visitas - por marcação - entre as 15:00 e as 17:00 da tarde, mas as nossas manhãs são só nossas.

Lamentamos não ser mais acolhedores, mas demasiados visitantes iriam manter-nos afastados do trabalho necessário e constante de vários livros novos, os quais estamos determinados a completar. Agradecemos a vossa consideração em deixar-nos continuar a viver a boa vida."

Publicado originalmente na edição de Jan/Fev de 1980 da Mother Earth News, esta tradução foi efectuada por Flávio Gonçalves e deixou de fora algumas perguntas que consideramos irrelevantes, mas que podem ser consultadas no original em língua inglesa. Caso nos queira auxiliar a traduzir e produzir mais conteúdos, por favor consulte o nosso Patreon. Esta tradução foi devidamente autorizada pelos detentores dos direitos de autor e pode ser livremente reproduzida desde que incluam uma ligação à versão original e não omitam o nome do tradutor.

Foto: Walden Woods Project’s Thoreau Institute Library

segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

John Shuttleworth: Director e Editor da Mother Earth News

Entramos em 2022 inaugurando a nova secção Entrevistas Históricas traduzindo a primeira entrevista do Plowboy - nome genérico utilizado pela redacção da Mother Earth News para assinar as suas entrevistas - com John Shuttleworth, fundador da revista pioneira do sobrevivencialismo e da autossuficiência dos EUA unindo várias gerações de sobrevivencialistas, revista essa que assinalou o seu 50º aniversário em 2020 e é uma grande inspiração para a Prontidão & Sobrevivência.

John e Jane Shuttleworth