O nosso futuro está no passado
É bastante possível que civilizações superiores à nossa tenham existido há milhares de anos na Terra. Além disso, acredito que somos descendentes de pessoas que lideraram civilizações entre as estrelas.
Quanto mais recuamos na história, mais complexas e técnicas se revelam as civilizações. O Egipto, Creta e a Suméria tinham resquícios de glórias no seu próprio passado que não conseguem ser explicadas pelos cientistas actuais. Talvez as civilizações antigas tenham degenerado após algum cataclismo nos polos. Talvez tenham sido destruídas por populações excedentárias ignorantes da sua própria ciência, da suas próprias tecnologias e das leis sociais de causa e efeito.
No entanto, o que é importante é que os povos tendem a esquecer as tecnologias que tornaram os seus antepassados grandiosos. De períodos de riquezas e liberdade, as nações afundam-se em períodos de pobreza e servidão. Isto acontece porque permitem que a ciência e a tecnologia passem das mãos de leigos inteligentes e independentes para o controlo de governantes, generais e deuses. os governantes, os generais e os deuses foram sempre inimigos da liberdade. São sempre egocêntricos e destrutivos, transformando as mais grandiosas obras dos homens superiores em ruínas, às quais se segue a ignorância e a selvajaria.
Mais próximo do nosso tempo estava Roma. A sua degeneração levou à Idade das Trevas, durante a qual os europeus até se esqueceram que a Terra era redonda.
Então, que Roma nos sirva de exemplo. O seu início deveu-se a individualistas vigorosos que se tornaram lendas, embora tornassem suas as lendas dos seus antepassados. Os primeiros romanos eram pequenos agrupamentos de homens que delegavam a autoridade só aos melhores de entre eles. Mantinham os grupos suficientemente pequenos para que cada homem pudesse ter a sua palavra e exercer a sua vontade em assuntos que fossem importantes para si próprio e para a sua família.
Era assim há 2000 anos a esta parte.
Cada homem estava ciente e era responsável pelo meio que o rodeava. Controlava o seu estilo de vida e obtinha sucesso ou fracassava dependendo dos seus esforços pessoais e da cooperação com os seus vizinhos.
Este sistema simples, de forte responsabilidade individual, aplicado até mesmo à agricultura primitiva da antiga Roma, funcionava e até gerava um excedente. O excedente era utilizado para comprar escravos, permitindo que o cidadão ficasse livre para se especializar. Livres ficavam também os congenitamente inaptos, que teriam perecido se não houvesse um excedente criado pelos seus superiores e um excedente ainda maior criado pelos escravos.
À medida que Roma se desenvolvia e os escravos assumiam a maior parte do trabalho, os melhores cidadãos especializavam-se no comércio, na manufactura, etc., e, passado pouco tempo, já não sabiam nada para lá das suas áreas estreitas de especialização. Surgiram então as massas de plebeus não qualificados e inúteis, chamados "proletários". Eram inúteis principalmente porque os escravos realizavam a maior parte do trabalho. Além disso, como havia pouco trabalho pelo qual medir um homem, os deficientes mentais e os psicóticos reproduziam-se sem que se reparasse neles. Assim, com o passar do tempo, a cidadania romana ficou geneticamente desvitalizada para lá do ponto de retorno.
Então surgiram os políticos. Ora, um político é um fracassado logo à partida. Se um homem é capaz de fazer algo, ele dedica-se a isso durante os seus anos formativos, seja a executar ou a aprender a fazê-lo. Assim, um bom varredor de rua é demasiado valioso para concorrer a um cargo político. Isso fica a cargo do seu inferior, que o faz com um certo requinte de vingança.
Os políticos romanos eram principalmente filhos ociosos dos ricos, frequentemente nomeados para oficiais do Exército. Se os seus legionários ganhassem uma grande batalha, aproveitam essa glória para sair do Exército e, com a publicidade imerecida, procuravam e geralmente obtiam cargos políticos.
Com os seus cargos políticos, favoreciam os militares e os grandes proprietários de terras, que eram a agro-indústria da época. Era lá que se concentravam a riqueza e o poder acumulados. Os votos do proletariado só garantiam aos políticos corruptos o seu lugar no comedouro público.
Estes aristocratas ignorantes conseguiam identificar-se melhor com as massas degeneradas, como então se viam. Aprendiam a linguagem do povo, prometiam-lhes tudo, davam-lhes pão e circo e, inevitavelmente, enganavam-nos.
Transformaram os seus estádios desportivos em pesadelos de carnificina conhecidos como combates de gladiadores. Tais espectáculos enojavam os estrangeiros mais vigorosos, mas deleitavam os eleitores efeminados e inúteis, o proletariado. Os políticos competiam uns com os outros para ver quem conseguia organizar os espectáculos mais depravados; leopardos a violar mulheres, leões a devorar crianças, etc. Assim, os políticos mais vis angariavam mais votos.
O excesso demográfico acabou por levar a nação à bancarrota. Os vizinhos bárbaros de Roma, saqueados dos seus recursos e colheitas, revoltaram-se finalmente e cortaram os fornecimentos a Roma. Assim, Roma desmoronou-se. Os escravos partiram para as suas terras tribais. Os comerciantes livres e especializados, arruinados, vaguearam pelo mundo conhecido à procura de mecenas ricos entre os bárbaros. Os aristocratas foram saqueados pelo proletariado e o proletariado regrediu para uma barbárie ainda mais primitiva do que a dos seus vizinhos arruinados.
Os romanos tinham bibliotecas, professores, filósofos. Por que não conseguiram os homens da razão unir o Estado? Com os recursos de Itália esgotados, as terras agrícolas exauridas, as unidades do exército a combaterem-se mutuamente bem como os invasores estrangeiros, e com uma população indisciplinada e turbulenta, como poderia a razão prevalecer? Resultado? Quase mil anos de Teocracia conhecidos como a Idade das Trevas.
Nos EUA, as máquinas são os nossos escravos. As nossas personalidades mais influentes não sabem praticamente nada fora das suas áreas de estreita especialização, a não ser que contemos com a sua perícia em eventos desportivos. O mesmo se aplica aos nossos cientistas, ligados a grandes empresas. Os nossos trabalhadores qualificados dependem inteiramente de uma sociedade estável, com energia e recursos facilmente disponíveis. Também sabem mais sobre beisebol e futebol americano do que sobre como criar galinhas. Aprender a manter uma quinta de subsistência seria quase uma traição. Duvidar que o modo de vida americano seja eterno é impensável e completamente desagradável.
O desemprego está a aumentar. Existem milhões de beneficiários da Segurança Social da primeira à quarta geração e até milhares que são já da quinta geração. Os nossos recursos estão esgotados, as nossas terras agrícolas estão a perder produtividade. Há seca desde os Dakotas até ao Texas. A seca actual na Califórnia é a pior em 72 anos. As nossas fontes estrangeiras de abastecimento estão a aumentar os preços e podem em breve recusar-se a vender os seus preciosos recursos seja a que preço for.
A não ser que ocorra uma guerra nuclear com os russos, que em breve estarão a passar fome, o colapso irreversível da América deverá ser evidente para todos até 1980. Nessa altura, será demasiado tarde para os habitantes urbanos regressarem à terra. Tudo o que encontrarão serão sobreviventes armados a tratá-los como os refugiados imprudentes e os ignorantes que serão.
O que nos pode impedir de mergulhar numa nova Idade das Trevas após o colapso da nossa própria civilização? Dadas as mesmas condições de Roma, a nossa selvajaria parece inevitável.
Mas nós temos um movimento acelerado de regresso à terra que os romanos não tinham. Os sobrevivencialistas conhecem a extensão do colapso e podem preparar-se, ao passo que os romanos não tinham televisão nem agências de notícias internacionais. Além disso, o nosso colapso será suficientemente rápido para que esta geração o experiencie. O colapso final de Roma foi gradual ao longo de várias décadas, de modo que o indivíduo realmente não sabia para que lado saltar até ser tarde demais.
Se os romanos que sobreviveram tivessem regressado ao sistema dos seus antepassados vigorosos e criativos, poderiam ter reconstruído a sua civilização a partir das ruínas e não teria havido Idade das Trevas. O mundo de Star Trek seria uma realidade no nosso tempo. Mas não o fizeram. Nós temos de o fazer!
Podemos desligar-nos e recriar o sistema dos nossos antepassados vigorosos e criativos. Podemos começar com a ciência do século XIX, antes dela se ter afastado do artesão individual e inovador e ter sido usurpada pelos acumuladores de riqueza e poder. Podemos retomar de onde os nossos antepassados pararam no desenvolvimento da energia solar, eólica e a vapor. Em vez de deixarmos as companhias de petróleo e bens de primeira necessidade venderem-nos energia, podemos aproveitar a nossa própria energia em sistemas de apoio à vida comunitária. Ao longo deste documento*, ponto a ponto, verás as possibilidades ao teu alcance para a independência do gigantismo que nos colocou a todos em tamanho perigo.
Podemos sobreviver, mantendo o nosso vigor e desenvolvendo os nossos sistemas de apoio à vida independente. Ao desenvolver a ciência dos nossos antepassados e mantendo-a sob o controlo dos leigos, podemos rejeitar para sempre a burocracia e o Complexo Militar-Industrial que despedaçou outrora Roma e que está a tomar conta da Civilização Ocidental.
As cidades do mundo perecerão, mas não é necessário que haja outra Idade das Trevas. Em vez disso, podemos partir das nossas quintas sobrevivencialistas rumo às estrelas.
Kurt Saxon
*The Survivor Vol. 1, 1976.